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EditorialA primeira revolução de 2011Por Carlos de JesusNo dia 17 de janeiro de 2001, no julgamento para destituição do presidente das Filipinas, Joseph Estrada, por motivos de corrupção, o Congresso decide arquivar as provas apresentadas e absolvê-lo. Menos de duas horas mais tarde, milhares de filipinos, revoltados contra a decisão, veem para a rua. Muitos deles tinham recebido nos seus telemóveis uma mensagem texto que dizia: "Vai EDSA. Vai de preto". A EDSA, como é conhecida localmente a popular artéria de Manila, "Epifanio de los Santos Avenue", tornou-se num mar de gente. Mais de um milhão convergiu para o local. Uma resposta assim tão massiva, em tão pouco espaço de tempo, só foi possível nesta era das redes sociais da Internet e dos telemóveis - cerca de 7 milhões de mensagens textos foram enviadas naquela semana. Resultado, a pressão da rua levou à destituição de Joseph Estrada e o acontecimento é hoje referido na imprensa local como a EDSA II ou a Segunda Revolução do Povo. Dava-se assim a primeira revolução fomentada pela era numérica. No dia 18 de dezembro de 2010, a polícia tunisina aborda Mohamed Bouazis, um estudante universitário desempregado que procura ganhar a vida como vendedor ambulante. Apreendem-lhe o carro de mão com frutas e legumes que era o seu ganha-pão e o sustento da família. Revoltado pela injustiça e desesperado com a situação económica, o jovem estudante imola-se pelo fogo diante da esquadra de polícia de Sidi Bouzid, uma pequena cidade a 200 quilómetros a sul da capital, Tunis. Mohamed Bouazis morre no hospital. Revoltados pelo incidente, centenas de jovens veem para rua e denunciam o regime ditatorial e corrupto em que são obrigados a viver. A polícia contra ataca. Há centenas de mortos e feridos. Não obstante a mão de ferro com que o General Ben Ali governa o país desde o golpe de estado de 7 de novembro de 1978 que o pôs no poder, não obstante a censura que procura controlar a Internet, a imprensa e os telecoms, a revolta espalha-se por todo o país e chega ao conhecimento do resto do mundo. Ao fim de três semanas de revoltas populares, cada vez mais violentas, à beira duma guerra civil, Ben Ali resolve ceder, sair do governo e exilar-se, deixando o país numa situação política caótica. Uma vez mais estamos perante o resultado do poder dos novos meios de comunicação social que são o Facebook, o YouTube ou os textos dos telemóveis. Nestes dois casos, Filipinas e Tunísia, o poder da teia saiu vitorioso. O mesmo não podem dizer, infelizmente, os militantes verdes do Irão, após a repressão sanguinária levada a cabo pelos zeladores da fé e da ordem, comandados por Kameney e Mahmoud Ahmadinejad, após as manifestações contra a burla das últimas eleições presidenciais de 2009. Mesmo com mortes em direto retransmitidas pelos telemóveis, o poder não cedeu. Desta vez porém, a revolução encorajada pela cibernética ganhou sobre a censura e as balas. O poder caiu na rua. No seu blogue, traduzido para português pelo "Diário da Liberdade", o tunisino Hedi Attia, nem acredita: «Quem teria imaginado isto há uns meses ou mesmo apenas algumas semanas atrás? - escreve ele. Acabamos de viver uma jornada sem precedente, nenhuma palavra, nenhuma expressão pode descrever completamente o que está a ocorrer neste momento. O Povo tunisino fez estremecer o mundo inteiro alçando e derrubando uma ditadura feroz, policial, bárbara e sem escrúpulos; atrevendo-se a desafiar este famoso medo que nos paralisava, este fatalismo que a oligarquia queria que interiorizássemos para que se dissesse que não era possível. (...) Esta é a primeira revolução do novo milénio. A primeira revolução popular do mundo árabe. A primeira revolução "numérica" que demonstrou claramente o alcance da Internet, que não é um mundo tão virtual como parecia. A revolução tunisina, ou a "Revolução do Jasmim" como alguns começam a chamá-la, é a ocasião de construirmos um novo país. Este novo país virá no dia antes de mais nada e graças à chegada de um novo cidadão que já se formou na luta contra a ditadura e que deve continuar o seu processo.» Se a Internet tivesse existido no tempo de Salazar, seria que o regime de partido único do Estado Novo se teria podido manter tanto tempo no poder, mesmo com a censura e a PIDE? Uma pergunta ociosa afinal, porque a História nunca se poderá escrever sobre hipóteses. Como a de se dizer que Hitler não teria desencadeado a Segunda Guerra Mundial não tivesse ele chumbado a sua admissão à Faculdade de Belas Artes de Viena, no dia 3 de outubro de 1908. |
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Acordo Ortográfico
Apesar das resistências encontradas na imprensa portuguesa em geral, o LusoPresse decidiu adoptar o novo acordo ortográfico da língua portuguesa pelas razões que já tivemos a oportunidade de referir noutro local. Todavia, estamos em fase de transição e durante algum tempo, utilizaremos as duas formas ortográficas, a antiga e a nova. Contamos com a compreensão dos nossos leitores. Carlos de Jesus Diretor |
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